plural

PLURAL: os textos de Valdo Barcelos e Rony Cavalli

Poder e autoritarismo não tem cor ideológica
Valdo Barcelos
Professor e escritor-UFSM

Por mais forte, por mais absoluto que se pretenda, por mais truculento e negacionista que um governante ou uma ideologia sejam, jamais conseguirão eliminar a capacidade individual de indignação e de resistência de algumas pessoas. Também não conseguirão abafar a liberdade e silenciar o desprezo produzido pela sua ignorância e estupidez. Vamos a um exemplo. A ditadura chinesa, comandada com mão de ferro pelo ditador Xi Jinping e pela burocracia do Partido Comunista da China, são os responsáveis pela triste e vergonhosa situação de colocar a China, hoje, na condição de país que mais executa seus cidadãos no mundo. 

Refiro-me a condenação e a pena de morte. Sozinha, a autodenominada República Popular Democrática da China é responsável por mais de 50 % de todas as execuções do mundo. Essa nação, que faz questão de ostentar no nome as denominações de "Popular" e de "Democrática", tem na presidência Xi Jinping que, além de ser o presidente eleito pela unanimidade do parlamento desde o ano de 2013, acumula as funções de secretário-geral do Partido Comunista da China e presidente da Comissão Militar Central desde 2012. 

O Partido Comunista da China tem uma sólida rede de controle da população, tanto pelos órgãos oficiais de vigilância quanto pelo sistema de colaboração e delação de suas milícias de espionagem interna que se infiltram nas comunidades mesmo as mais remotas da China. Esse controle é tão forte que os jovens chineses desconhecem completamente o que ocorreu nos protestos de estudantes em 1989, na Praça Tiananmem. Protestos que ficaram conhecidos como o massacre da Praça da Paz Celestial. O mais triste é que se os jovens chineses soubessem, provavelmente, não se importariam, pois, estão acostumados a não duvidar ou criticar as instituições do Estado chinês.

Outro paradoxo da sociedade chinesa atual é que ela apresenta ao mundo verdadeiras ilhas de excelência nas mais diferentes áreas de produção de conhecimento e de inovação tecnológica, contrastando com regiões completamente esquecidas e vivendo em estado de pobreza extrema. Só para ter-se uma vaga ideia, ainda existem na China centenas, milhares de mulheres que não tem nome.

O artista chinês Ai Weiwei, perseguido, preso e vigiado 24 horas por dia pelo governo, relata que foi convidado para apresentar uma instalação de arte na 12ª exposição Documenta em Kassel (2007), Alemanha. Sua obra constava em levar para Kassel 1001 chineses de diferentes regiões do país. Deparou-se, então, com um problema inusitado: muitas mulheres que se inscreveram para participar não podiam fazer passaporte, pois não tinham nome. Isso mesmo, mulheres com 40, 50, 60 anos não tinham nome próprio. Quando precisavam se identificar usavam o sobrenome do marido ou do pai. 

Essa é a segunda coluna em que me reporto ao artista Ai Wewei. É que fiquei impactado com a exposição que visitei, recentemente em Lisboa, e com o livro intitulado 1000 Anos de Alegrias e Tristezas - memórias (2021), lançado na exposição. O livro e a arte de Weiwei são um profundo mergulho na história e na cultura chinesa. A militância de Weiwei, em defesa da liberdade e dos Direitos Humanos, é um raro exemplo de dedicação de uma vida a uma causa.

Chile a caminho do desastre
Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário

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A partir dos protestos de 2019, o Chile já vinha dando sinais que estava embarcando no "canto da sereia" da esquerda, o que veio a se confirmar neste último domingo com a eleição do jovem Gabriel Boric para presidente para o próximo mandato 2022/2026.

Inobstante o Presidente eleito chileno ter um discurso menos radical e, inclusive, criticar aberta e frontalmente os regimes cubanos e venezuelanos, se colocando no que seria um pensamento de uma nova esquerda na América Latina e querendo afastar-se do surrado, desastroso e atrasado pensamento econômico marxista que a esquerda do resto desta mesma América Latina insiste em pregar como solução de todos os males, apesar dos resultados desastrosos por onde passa, a notícia não é boa, pois sendo esquerda estou com Margaret Tatcher, que dizia que "onde a esquerda pisa, não nasce grama".

Apesar da economia liberal chilena vir apresentando alguns desajustes nos últimos tempos, especialmente o sistema previdenciário privado com a desvalorização das pensões dos mais pobres, a verdade é que estes problemas se apresentam como tal se comparados com os próprios chilenos, acostumados a uma renda maior do que a dos seus vizinhos latinos. O salário mínimo chileno é o maior da América Latina.

Digo que o presidente chileno eleito se apresenta como sendo uma "nova esquerda" porque ao que tudo indica não passa de tentativa de se vender como algo diferente dos desastres cubanos, venezuelanos, argentinos e onde mais a esquerda tenha implementado seja o socialismo ou como querem metaforicamente dizer o "novo socialismo", o resultado foi um desastre, já que as promessas de suas primeiras medidas como presidente indicam que usará os mesmos remédios que levaram os demais à ruina.

Gabriel Boric tem como uma de suas promessas de campanha a taxação das chamadas grandes fortunas, ou seja, tributar pesadamente os mais ricos, seguindo o que já foi feito na França tempo atrás e o resultado foi uma catástrofe, pois as grandes fortunas são organizadas e ao menor sinal de ameaça se reorganizam e migram para territórios menos hostis. Na Argentina, recentemente, foi tentada a mesma ação, tendo os milionários, em sua grande maioria, migrado para o Uruguai.

Pensar a solução dos desajustes de uma economia liberal fora dos princípios e valores do livre mercado, o resultado será um só: o desastre.

A solução dos problemas do capitalismo não está fora dos valores do próprio capitalismo, único modelo econômico com capacidade de criar riquezas. Enquanto se enxergar capitalistas como vilães e não como indivíduos que com sua capacidade enriquecem e geram empregos e rendas, não sairemos desta ciranda ideológica que só gera mais pobreza.

É inacreditável que em pleno século XXI, com a tecnologia que dispomos hoje e com a capacidade que o homem tem de tabular seus próprios resultados e comparar suas ações, ainda temos esta discussão acerca de resultados do capitalismo e do socialismo.

Se compararmos os dados, especialmente o IDH, dos países liberais com os de modelo socialistas, são absurdamente ridículos e favoráveis ao primeiro. Mesmo o Chile e o seu modelo de economia liberal produz resultados que se comparado com seus vizinhos latinos, chegando ser risível alguém com inteligência mediana achar que algum modelo socialista vai consertar os pequenos desajustes da economia chilena.

Os desajustes da economia liberal somente a própria economia liberal com sua capacidade de gerar riquezas, a partir do mérito, é que pode consertar. A sorte dos chilenos é que, por enquanto, o novo presidente não contará com maioria no parlamento e isto é suficiente para, neste próximo mandato, salvar o chile dos devaneios socialistas ou, ouviremos à frente que mais uma vez a culpa do fracasso da economia do Chile será do "Tio Sam".

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